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Dívida estudantil cresce e sufoca os universitários dos Estados Unidos

Mais de 40 milhões de norte-americanos devem 1,2 biliões (1.200.000.000.000) de dólares em empréstimos estudantis, o que representa mais do dobro que se devia em 2007. Por Julia Hotz.
“Esta geração é demasiado grande para falir” (Dívida dos empréstimos estudantis, agora é já de 1,2 biliões de dólares) – Imagem de Occupy Posters/flickr

Leah Hughes sonha ser uma organizadora comunitária nos Estados Unidos. Para esta estudante do Scripps College, no Estado da Califórnia, falta pouco para obter um duplo diploma em Relações Internacionais e Belas Artes. “Como primeira geração na minha família que cursa universidade, a minha experiência numa instituição privada, especializada nos campos de estudo que me interessam, foi a mais transformadora da minha vida. Isso levou-me a dedicar a vida ao serviço público e deu-me a oportunidade de ajudar outros com o conhecimento adquirido”, afirmou à IPS.

Mas, antes que Hughes possa se dedicar ao serviço comunitário, deverá ocupar-se de algo nada insignificante. A jovem acumulou uma dívida superior a 30 mil dólares em gastos com matrícula e mais de 15 mil dólares em empréstimos e juros. Ela recebeu a única bolsa que o Scripps College concede ao mérito, mas esta só cobre 14 mil dólares da sua dívida, que continuará a acumular juros anuais que não pode pagar. Ela não está só nesta batalha.

Mais de 40 milhões de norte-americanos devem 1,2 biliões (1.200.000.000.000) de dólares em empréstimos estudantis, o que representa mais do dobro que se devia em 2007. “O que ocorre é uma exploração”, disse Hughes à IPS. “Se continuarmos a vender a ideia de que a educação é a forma como os estudantes e as pessoas de baixa e média rendimentos, como eu, poderão ter acesso e converter-se em integrantes produtivos da sociedade, estamos obrigados a lhes dar um contexto para que paguem a dívida e não fiquem paralisados pelo peso dos empréstimos pendentes de pagamento”, afirmou.

Uma análise correspondente ao ano letivo 2011-2012, realizada pelo Centro para o Progresso Norte-Americano, uma instituição de investigação de Washington, os centros de educação superior do país arrecadaram 154 mil milhões de dólares a título de matrícula, enquanto as famílias e os estudantes financiaram esses gastos com empréstimos de 106 mil milhões de dólares dos programas públicos de ajuda estudantil.

Apesar de tudo, Olivia Murray, coautora do estudo, entusiasma-se com o retorno do investimento que a universidade oferece. “Apesar do custo crescente da educação superior e da dívida potencialmente alta dos estudantes, a universidade continua a ser o investimento mais valioso que um estudante pode fazer no seu futuro, e é cada vez mais importante numa economia em constante especialização”, afirmou.

Bolsistas da Iniciativa de Líderes Africanos Jovens (Yali) expressaram a mesma crença no valor da educação superior durante uma reunião sobre o tema realizada no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), instituição académica com sede em Washington, no dia 29 de julho.

Araba Hammond e Regina Agyare, duas bolsistas da Yali, expressaram o mesmo entusiasmo que Hughes e Murray pelas vantagens que a educação superior oferece, mas afirmaram que não estão “familiarizadas” com o modelo de pagamentos estudantis nos Estados Unidos. “Na realidade, não tivemos que nos preocupar com o custo do ensino”, contou Hammond à IPS. “Até as universidades mais caras da África são acessíveis para quase todos, devido à quantidade de bolsas”, acrescentou.

Hammond não se recorda de alguma das suas amizades se ter endividado por causa dos estudos, e afirmou que na África “os estudantes não se formariam com as dívidas” que os universitários dos Estados Unidos devem pagar. Agyare compartilhou das palavras da sua companheira. “Os empréstimos estudantis aqui são muito, muito pequenos”, disse.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou, no dia 9 de julho, a ampliação do Plano Pay As You Earn (Pague na Medida em que Ganhe, Paye), que perdoaria a dívida estudantil daqueles que pagarem 10% do seu rendimento durante um prazo de 20 anos.

Numa intervenção mais direta e imediata, a senadora Elizabeth Warren, do Partido Democrata, propôs um projeto de lei que permite aos estudantes que fizeram empréstimos o refinanciamento da dívida a taxas de juros menores. “Isso é obsceno”, afirmou Warren sobre o modelo de empréstimos estudantis dos Estados Unidos. “O governo não deveria estar a ganhar 66 mil milhões à custa dos nossos estudantes”, ressaltou.

“É hora de acabar com a prática de lucrar com os jovens que procuram uma educação e refinanciamento dos empréstimos existentes”, acrescentou a senadora por Massachusetts. Enquanto a oposição do Partido Republicano impediu a adoção do projeto de Warren, a legisladora, juntamente com inúmeros estudantes e famílias de classe média, mantém a luta por sua aprovação.

“Os alunos e os seus pais deveriam ser capazes de refinanciar a dívida estudantil, como ocorre em qualquer outro tipo de empréstimo nos Estados Unidos”, destacou Hughes à IPS. “Sobretudo quando essa dívida estudantil está a transformar-se na maior das dívidas que afetam as pessoas nesse país”, acrescentou.

Artigo de Julia Hotz da IPS.

Envolverde/IPS

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