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Crianças em “risco” sem técnicos especializados

O governo quer despedir 300 técnicos, educadores sociais, psicólogos e assistentes sociais que desenvolvem trabalho com crianças institucionalizadas ao abrigo do Plano DOM – Desafios, Oportunidades e Mudanças. Contributo do nosso leitor José Lopes.

Sempre com o argumento da redução de despesas do Estado os cortes financeiros são verdadeiramente cegos, como fica bem demonstrado no exemplo concreto dos cerca de 300 técnicos especializados para acompanhar crianças que foram institucionalizadas, que estão a ser despedidos, pondo estas medidas economicistas do governo em causa os próprios projectos de vida das crianças em “risco”, tantas vezes retiradas às famílias, que agora correm o risco de ficarem entregues a pessoal auxiliar sem formação adequada para darem continuidade ao trabalho especifico que vinha sendo desenvolvido por equipas técnicas em instituições, que incluem educadores sociais, psicólogos e assistentes sociais ao abrigo do Plano DOM – Desafios, Oportunidades e Mudanças.

A frieza com que os governantes tratam áreas sociais como a que pode pôr em causa o Plano DOM só podem agravar a já de si deficitária capacidade de resposta das instituições, na ausência do Estado assumir o seu papel, que acolhem crianças vítimas de maus-tratos, violência doméstica e abusos de vários tipos que na generalidade, tais sinais só acabam por serem descobertos logo a partir dos jardins-de-infância pelos profissionais de educação em meio escolar e depois encaminhadas para instituições.

Mas se é verdade que o recurso à institucionalização não pode ser solução para tudo, nomeadamente para as duras consequências das fragilidades sociais e económicas que se estão abater sobre as famílias, que tantas vezes tornam as crianças desprovidas de meio familiar adequado. As medidas que despedem técnicos ao serviço de instituições nesta área, acabam também por se reflectir no amontoar de casos, das designadas crianças em “risco” na escola pública em que, na sequência da mesma linha de reduções de custos, sem equipas multidisciplinares e técnicos, como psicólogos com áreas de intervenção absurdas em mega-agrupamentos, não tem respostas profissionais e especializas adequadas para as crianças que vão começar a ficar na escola independentemente do diagnóstico. Tais são as justas e oportunas dúvidas que se deverão colocar agora, sobre a solução da institucionalização de uma criança fora da escola, quando o Estado desvaloriza o trabalho especializado e as deixa à mercê da mera e fria institucionalização.

José Lopes (Ovar)
 
 

 

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