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Coreia do Norte: confirmada sucessão dinástica

Aniversário do partido serve de palanque para Kim Jong-un, um ilustre desconhecido dias atrás, aparecer com destaque ao lado do pai. Por Tomi Mori, de Tóquio para o Esquerda.net.
Kim filho, o novo general de 4 estrelas, e Kim pai no palanque

A comemoração do 65.º aniversário do Partido dos Trabalhadores, realizada este domingo, teve como objectivo principal a promoção politica de Kim Jong-un, filho do actual ditador Kim Jong-il no cenário norte-coreano.

A comemoração, realizada com um grande desfile militar em Pyongyang, teve a participação destacada de Kim Jong-un ao lado do seu pai, Kim Jong-il. Ao contrário da conferência do PT realizada dias atrás, a comemoração do aniversário do PT coreano foi feita de maneira que imagens do novo escolhido para governar o país pudessem ser gravadas e divulgadas em todo mundo. Em particular, recebeu bastante destaque dos média japoneses.

Na sexta-feira, Yang Hyong-sop, um alto escalão da burocracia comunista norte-coreana, afirmou que os norte-coreanos tem “a honra de servir o jovem general Kim Jong-un”

Kim Jong-un, um ilustre desconhecido dias atrás, foi promovido a general de quatro estrelas das forças armadas norte-coreanas e recebeu uma posição de número dois na hierarquia militar, abaixo apenas do seu pai, na recente conferência partidária

A transição de poder na Coreia do Norte transformou-se numa das principais questões, já que toda a gente sabe que Kim Jong-il não se encontra bem de saúde e pode ser afastado efectivamente do poder de forma inesperada.

A promoção e divulgação mundial do novo “aprendiz de ditador” tem o objectivo de deixar claro que a transição já está definida a nível da cúpula burocrática norte-coreana. E que também, a partir de agora, Kim Jong-un passará a assumir paulatinamente as posições de liderança do pai.

Burocracia hereditária

A Coreia do Norte foi formada com a divisão da Península Coreana no pós-guerra. O novo país, dirigido pelos comunistas, foi transformado numa fechada ditadura sob a liderança de Kim Il-Sung. Antes da sua morte, em 1994, foi passando as rédeas do poder ao filho, o medíocre Kim Jong-il, o actual líder, que se transformou no seu sucessor. Essa transição política norte-coreana pode ser considerada a mais reacionária da história do capitalismo, já que reviveu uma tradição feudal onde os monarcas eram sucedidos pelos príncipes, seus filhos. Caso Kim Jong-un, venha a ser o novo líder, em futuro próximo, estaremos a assistir a um grotesco caso de formação de uma “burocracia monárquica” . Uma situação verdadeiramente esdrúxula e anacrónica.

Um longo pesadelo

Segundo informações colhidas entre a população norte-coreana, a ascensão do “aprendiz de ditador” tem sido vista com incredulidade. É de se imaginar que os 23 milhões de norte-coreanos já estejam bastante cansados desse longo pesadelo que se iniciou no pós-guerra e pretende prolongar-se indefinidamente. Salvo excepções (no caso alguns milhões que compõem a actual burocracia norte-coreana), ninguém pode estar satisfeito e feliz quando a média salarial do país gira em torno de 47 dólares mensais.

É essa situação, de manutenção da população completamente escravizada, no mais retrógrado regime do planeta é que permite que Kim Jong-Un possa ascender ao cargo de liderança do país. Com a futura morte de Kim Jong-il, que todos sabemos tratar-se de uma questão de tempo, a burocracia norte-coreana teme que possa ser gerada uma crise política explosiva. E que essa crise possa levar à sua própria extinção.

Para defender os seus privilégios, a burocracia necessita que a família Kim continue na gerência desse negócio chamado Coreia do Norte. Durante as ultimas décadas, a Coreia do Norte transformou-se numa nação indigente, que sobrevive graças ao apoio que recebe da burocracia vizinha, a chinesa.

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