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COP24: resultado medíocre em Katowice

O resultado medíocre desta COP24 tem responsáveis, o lóbi dos hidrocarbonetos e os negacionistas das alterações climáticas. Por Pedro Soares
Marcha pela Justiça Climática em Katowice
Marcha pela Justiça Climática em Katowice

A sustentabilidade da vida na Terra está suspensa pelos interesses económicos de um modo de produção que resiste à mudança e por uma ideologia conservadora que entende o clima como alguma coisa do divino, em que a ação humana pouco ou nada influi.

A mão de Trump esteve bem presente nas duas anteriores COP, as de Marraquexe e Bona, que nada adiantaram para o combate ao aquecimento global. Nesta de Katowice, o eixo EUA, Rússia, Arábia Saudita e Kwait, aditivada na fase final com o Brasil e a sombra de Bolsonaro, marcou o início das negociações com a recusa do reconhecimento do relatório do painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (IPCC) que torna clara a emergência da adoção de medidas para reduzir a emissão de gases com efeito de estufa (GEE) nos próximos 12 anos, sem o que e o limite de 1,5ºC para o aquecimento médio da Terra será inalcançável.

O “livro de regras” que sai de Katowice define e uniformiza algumas metodologias na forma como se medem as emissões de GEE, mas não contém qualquer ambição em termos das metas de cada país para a redução dessas emissões. É uma espécie de fita métrica que nada tem para medir. O texto da COP24 apenas “saúda” o relatório do IPCC, mas não se compromete com nenhuma das metas e ações que aquele painel de cientistas considera que devem ser assumidas com toda a urgência.

Esta falta de ambição e clareza do texto final da COP24 também se traduz na ausência de acordo sobre o financiamento de 100 mil milhões de dólares, a partir de 2020, aos países em desenvolvimento, conforme prevê o Acordo de Paris. A etapa histórica do desenvolvimento económico baseada em energia de origem fóssil precisa de ser ultrapassada naqueles países. A ideia é entrarem diretamente para o desenvolvimento sustentado com o menor recurso possível aos hidrocarbonetos. Para isso é essencial que os países mais desenvolvidos, verdadeiramente responsáveis pela grande quantidade de emissões de CO2, apoiem esse processo.

Sobre esta matéria do financiamento do Fundo Verde, a COP também não teve qualquer avanço. Ficou-se pela hipócrita declaração da "necessidade urgente de mobilização das finanças climáticas”. Ausência de ambição e de ação para enfrentar as alterações climáticas ficam na história da presidência polaca da COP24.

O facto é que os consumos de hidrocarbonetos continuam acima do necessário para que o aumento da temperatura global possa ser sustido e não ultrapasse os 1,5º C. Segundo o relatório do Orçamento do Carbono, recentemente divulgado, as emissões globais da queima de combustíveis fósseis devem atingir 37.100 milhões de toneladas de CO2 em 2018, com um crescimento em 2017 de 1,6%.

A mobilização social para combater este caminho para o abismo climático tem-se demonstrado essencial. Os grandes desastres dos últimos anos com origem nas alterações climáticas e as evidências cientificas de investigadores de todo o mundo sobre a urgência na transição energética para as renováveis, não vai convencer o capitalismo que considera ainda poder lucrar muito com a energia de origem fóssil.

Sobre o/a autor(a)

Docente universitário IGOT/CEG; dirigente da associação ambientalista URTICA. Dirigente do Bloco de Esquerda
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