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Contra os cortes na cultura: “abraços” aos teatros nacionais

O TNSJ, no Porto, foi envolvido num abraço colectivo de 2 mil de pessoas, em protesto pela integração da instituição na OPART. Em Lisboa, uma concentração em frente ao TNDM II, juntou quase 2 centenas de pessoas “em solidariedade com a greve do teatro Meridional e da Garagem” e em protesto colectivo contra os anunciados cortes no sector da Cultura.
O "abraço" ao Teatro Nacional D. Maria II, na noite de 24 de Novembro. Foto Mariana Filipe

“O São João é nosso” e “Canavilhas vai p’rá rua, esta cena não é tua” foram as palavras de ordem mais ouvidas, ao princípio da tarde desta quarta-feira de Greve Geral, no decorrer de uma manifestação promovida sob o mote “Um Abraço pelo Teatro”, e destinada a mostrar a oposição da cidade do Porto à anunciada fusão da instituição portuense com a OPART (organismo sediado em Lisboa que gere já o Teatro Nacional São Carlos e a Companhia Nacional de Bailado e que a ministra da Cultura decidiu que passará também a administrar os teatros nacionais D. Maria II e São João).

Todos quiseram estar presentes no abraço pelo teatro: anónimos curiosos, elementos da equipa dos bastidores do São João, personalidades destacadas da vida cultural portuguesa (desde João Reis a Manuela Azevedo), representantes das outras instituições da cidade, como a Casa da Música, ou directores artísticos de festivais ou companhias teatrais. Foi um “abraço” com cerca de 2 mil pessoas.

À frente do teatro nacional, tapado por andaimes que teimam em não desaparecer enquanto a fachada não tiver sido alvo de obras, gritaram em uníssono "O Porto não se vende" e pediram a demissão da ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, diz o Jornal de Notícias (JN).

Para além de inúmeras figuras do mundo do teatro da cidade, muito notada foi a presença de várias dezenas de estudantes do ensino secundário. “Viemos aqui abraçar o São João, porque é um teatro que está a trabalhar para nós. Somos estudantes do curso de Teatro, estamos a ser formados para ser actores, e é gratificante podermos ajudar numa causa que, mais tarde, poderá vir também ajudar-nos”, disseram ao Público Ana Luís e João Freitas, dois alunos do 12º ano do Externato Delfim Ferreira.

"A fusão pode abalar aquilo que o TNSJ, com a sua ambição de fazer muito pela vida cultural do Porto, muito pela vida cultural do país e por ter a ambição de sair fora de portas, conseguiu", disse Manuela Azevedo, vocalista do Clã, que falou ao JN.

Ver vídeo do "abraço" ao TNSJ no Porto.

Os Teatros Meridional e da Garagem têm espectáculos em cena mas fizeram greve

Na noite desta quarta-feira, o Teatro da Garagem promoveu uma concentração em frente ao Teatro Nacional D. Maria II, na Rossio, em Lisboa, à qual se juntaram os Intermitentes do Espectáculo e do Audiovisual.

O protesto consistiu numa demonstração de solidariedade para com os teatros Meridional e da Garagem que, mesmo com espectáculos em cena nessa noite, aderiram à greve. Mas a concentração, que juntou mais de 150 pessoas, foi também um momento de protesto colectivo contra os anunciados cortes no sector da Cultura – o OE'2011 prevê um investimento no sector que representa menos 1/4 do que no ano anterior – e contra a fusão dos teatros nacionais, o D. Maria II e o São João no Porto, na mesma estrutura já existente, a OPART.

A concentração foi pontuada com um incidente que envolveu a polícia, que agiu desmedidamente, devido à ocupação momentânea da estrada em frente ao teatro, pelos manifestantes. Os deputados do Bloco de Esquerda José Soeiro e Catarina Martins estavam solidariamente a participar na concentração e tendo conhecimento do sucedido já questionaram o Ministério da Administração Interna.

Na sua pergunta os deputados referem que “quando a PSP comunicou aos manifestantes a impossibilidade de estes estarem na rua, os manifestantes optaram por dar visibilidade ao seu protesto atravessando em contínuo a passadeira para peões, durante os sinais verdes, o que é direito inquestionável”.

Contudo, “a intervenção da PSP não está, no entanto, isenta de críticas”, dizem. Os agentes no terreno, comandados pelo Chefe Principal Vítor Peneda, não se encontravam identificados e actuaram de forma totalmente desproporcionada e injustificada, recorrendo à força para retirar os transeuntes da passadeira. Interpelados sobre a razão de não estarem identificados, “alguns dos agentes sorriram ironicamente alegando que “se tinham esquecido” de colocar a identificação”, relatam os deputados do Bloco.

Dia de Greve Geral: dia de luta contra os cortes na Cultura

Durante a manhã da greve, os trabalhadores da Plataforma dos Intermitentes do Espectáculo e do Audiovisual promoveram diversas acções de rua, em frente aos vários teatros situados na zona da Baixa de Lisboa. Em frente ao S. Luís, ao D. Maria II, ao Trindade, e também em frente do Museu das Ruínas do Carmo, os trabalhadores organizaram “micro-piquetes”, empunhando cartazes onde se lia, por exemplo, “os artistas estão paralisados”. Algumas pessoas tinham mesmo a boca tapada com fita-cola, um gesto que simbolizava também os efeitos dos cortes orçamentais previstos para o sector que diminuirão a diversidade e a quantidade da produção cultural.

O Esquerda.net falou com Carla Bolito, da Plataforma dos Intermitentes, que contou que durante as acções realizadas de manhã e depois na concentração conjunta com os Precário Inflexíveis, no Rossio, juntaram-se 300 pessoas mobilizadas pela defesa da Cultura e contra a precariedade que cresce em todos os sectores.

Segundo a atriz, “esgotou-se o tempo de negociação” com a Ministra. Por isso os protestos deverão continuar. Aliás, referiu, não houve “negociações” entre a Ministra da Cultura e as estruturas culturais porque a ministra insiste em apenas comunicar os números dos cortes no sector, mantendo uma relação unilateral. Gabriela Canavilhas “não quer ser Ministra da Cultura”, é a opinião de Carla Bolito. 

Em causa neste desinvestimento na Cultura, diz, estão mesmo despedimentos que ainda por cima “não são bem despedimentos”, por causa dos recibos verdes. A situação é grave porque estas pessoas “não têm qualquer protecção social”, lembra. 

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