Carregal do Sal e Santa Comba Dão vivem situação ambiental “muito grave”

O deputado do Bloco e presidente da Comissão do Ambiente, Ordenamento do Território e Poder Local, Pedro Soares disse após uma visita esta segunda-feira aos concelhos de Carregal do Sal e Santa Comba Dão que foi informado que “há dezenas de Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR's) que não funcionam ou funcionam mal e estão a drenar diretamente efluentes domésticos e industriais - águas residuais não tratadas - para as linhas de água".

"Percebemos que há uma situação muito grave ao nível ambiental nestes dois concelhos. Segundo o que me informaram, nomeadamente através da AZU (Associação Ambiente em Zonas Uraníferas), este é um quadro que se prolonga por outros concelhos da região", denunciou.

Em declarações à TSF, Pedro Soares sublinhou que "a dimensão deste problema é de tal forma grande que está a fazer surgir protestos dos agricultores, dos pastores que estão a ver a suas terras ensopadas em águas residuais, com um cheiro horrível e espuma que estão a matar pomares e há animais a morrer, segundo os pastores, por causa das doenças".

O Presidente da Comissão Parlamentar de Ambiente referiu ainda que “em Carregal do Sal, no conjunto de 36 ETAR e de várias fossas séticas, só duas é que estão licenciadas, o que quer dizer que todos os outros equipamentos de recolha e tratamento de águas residuais são drenados diretamente para as linhas de água sem tratamento”, tendo ainda acrescentado que em Santa Comba Dão “em 31 ETAR e nove fossas séticas, só uma está licenciada”.

Assimetrias entre o interior e o litoral

O parlamentar bloquista disse ainda não querer “dramatizar até até porque as minhas funções de presidente da Comissão Parlamentar do Ambiente não me permitem dramatizar as coisas de forma pouco fundamentada, mas posso dizer que é uma situação muito grave aquela que se vive", sustentou.

"Percebemos que em Carregal do Sal existe boa vontade por parte do presidente da Câmara para resolver as coisas, mas não tem recursos”, disse, tendo referido que o município “tem um plano, que implica a construção de seis novas ETAR's, mas não tem financiamento próprio, nem garantia de financiamento a nível europeu, não conseguindo dar qualquer expetativa em termos temporais para execução desse plano".

Para o bloquista esta situação demonstra também que “há uma assimetria muito grande entre o interior e o litoral, entre as grandes áreas metropolitanas e os pequenos municípios do interior, no que respeita ao tratamento de águas residuais”.

"A situação que vi em Carregal do Sal, com terrenos contaminados, se fosse num qualquer concelho da área metropolitana de Lisboa já um clamor público tinha tocado os sinos sobre esta questão", referiu.

"Isto não é um problema do município per si, pois a maior parte deles estão descapitalizados e incapacitados de enfrentar problemas, sem que a administração central e o governo intervenham diretamente”, considerou tendo ainda realçado que “a administração central tem de intervir, não se pode demitir de resolver o que é um problema nacional".

Pedro Soares referiu ainda o facto "de o Portugal 2020 ter sido mal desenhado" uma vez que foi "virado para o financiamento de iniciativas a partir das empresas e não no ponto de vista territorial" e nesse sentido afirmou que “alguém teve a veleidade de ir dizer para Bruxelas que Portugal tinha os seus problemas de saneamento resolvidos e que o país todo estava coberto por saneamento básico” o que é “absolutamente falso”.