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"Caloiro é incondicionalmente servil, obediente e resignado", lê-se em manual de praxe

Luís Monteiro afirma-se “chocado” com o 'Manual de Sobrevivência do Caloiro' distribuído na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. O deputado do Bloco alerta que “faltam mecanismos para controlar os abusos na praxe” e frisa que “continua a ser uma mentira dizer que só vai à praxe quem quer”.

“O caloiro não é um ser racional; a espécie em questão não goza de qualquer direito, salvo o da existência (até por vezes questionável); O caloiro é incondicionalmente servil, obediente e resignado; O caloiro é assexuado; Deve ser sempre moderado no uso da palavra (zurra, grunhe, bale e relincha só quando lhe é dada permissão); Não é permitido pensar, opinar, gesticular, buzinar, abanar as orelhas ou pôr-se em equilíbrio nas patas anteriores”. Estas são algumas das frases que constam do 'Manual de Sobrevivência do Caloiro' que foi distribuído por alunos mais velhos aos novos estudantes da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP).

“Faltam mecanismos para controlar os abusos na praxe”

O deputado do Bloco de Esquerda Luís Monteiro afirmou-se “chocado” com o conteúdo do documento.

“[Os autores] fazem-no sem medos, recuperando uma linguagem que era a dos anos 1990”, referiu o dirigente bloquista em declarações ao jornal Público.

“Parece-me que resulta claro de um caso como estes que faltam mecanismos de apoio aos novos alunos e faltam mecanismos para controlar os abusos na praxe”, defende Luís Monteiro, anunciando que, além da denúncia pública, vai enviar uma questão parlamentar ao Ministério da Ciência e Ensino Superior sobre esta situação.

“Continua a ser uma mentira dizer que só vai à praxe quem quer”

Em declarações ao Notícias ao Minuto, o deputado do Bloco Luís Monteiro destacou que, ao ler o documento, ficamos com a sensação de que “alguém continua a viver no século XIX”.

“O tipo de linguagem utilizada, a cultura da subserviência, da subjugação, de um discurso machista, que marca uma visão da praxe que não pode ser a visão do Ensino Superior no século XXI, em 2017”, frisou.

Luís Monteiro assinalou que “continua a ser uma mentira dizer que só vai à praxe quem quer. [Isto] é verdade se houver alternativas reais a isso. Agora, para quem chega a uma cidade pela primeira vez, não conhece ninguém, a última alternativa, muitas vezes até pressionado na altura das matrículas, é justamente ir para a praxe ou não ter nenhum tipo de integração”.

O deputado alertou que há “falta mecanismos de denúncia e de fiscalização e de alternativas reais a quem não quer ir à praxe”, que o número disponibilizado “precisa de ser mais publicitado”, avançando que é necessário que “as instituições agarrem esse mecanismo e que criem gabinetes de apoio ao estudante, um serviço de proximidade”.

Tal como fez questão de sublinhar, esta é uma responsabilidade “do país, das universidades, do Ministério do Ensino Superior”, em que todos “são chamados à questão e é preciso ter uma resposta em conjunto”.

Director da FCUP diz desconhecer esta prática

O diretor da FCUP, António Fernandes Silva, garante que o “Manual” não foi distribuído dentro da Faculdade: “Aqui dentro, não está a acontecer, de certeza absoluta."

Fernandes da Silva explicou ao Público que proibiu, há sete anos, todas as atividades associadas à praxe académica no interior das instalações da FCUP, sendo que, em 2016, chegou mesmo a solicitar a intervenção da PSP para afastar os estudantes que integram as estruturas praxistas das imediações deste estabelecimento de ensino.

 

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