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Brasil: Temer é acusado de corrupção pelo Procurador-Geral

É o primeiro presidente a ser denunciado ao Supremo Tribunal Federal durante o mandato. Procurador diz que Temer e ex-deputado “desvirtuaram as funções públicas que exercem” para atender “interesses escusos”. Denúncia tem como base a delação da multinacional JBS. Por Luis Leiria, no Rio de Janeiro.
Apenas 7 por cento dos brasileiros aprovam governo de Temer. Foto de José Cruz, Agência Brasil
Apenas 7 por cento dos brasileiros aprovam governo de Temer. Foto de José Cruz, Agência Brasil

O procurador-geral da República do Brasil, Rodrigo Janot, apresentou na noite desta segunda-feira ao Supremo Tribunal Federal (STF) um pedido para que o presidente da República seja processado por corrupção passiva, baseado nas investigações que foram abertas após as delações de executivos da multinacional produtora de carne JBS na Operação Lava Jato.

Para seguir adiante, a abertura do processo contra o presidente tem de ser autorizada por 342 dos 513 membros da Câmara de Deputados, e aceita pela maioria dos juízes do STF. Caso isso aconteça, Temer será afastado do mandato por até 180 dias e julgado.

A acusação a Temer inclui o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures, assessor do presidente e que foi detido em flagrante depois de ter recebido da JBS uma mala com 500 mil reais em notas.

“Além do efetivo recebimento do montante espúrio mencionado, Michel Temer e Rodrigo Loures, em comunhão de esforços e unidade de desígnios, com vontade livre e consciente, ainda aceitaram a promessa de vantagem indevida no montante de R$ 38 milhões”, diz a denúncia.

É a primeira vez que um presidente da República é denunciado ao STF durante o seu mandato. A Presidência da República ainda não se manifestou sobre a denúncia.

Comprar o silêncio de Eduardo Cunha

O relatório da Polícia Federal que serviu de base ao procurador Janot afirma que a gravação de uma conversa entre Temer e o executivo da JBS Joesley Batista, realizada por este último, prova que este incentivou a continuação de pagamentos ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, preso desde outubro do ano passado, para comprar o seu silêncio.

Em princípio, Temer conta com o apoio de deputados suficientes para impedir que a denúncia siga até ao julgamento no STF mas, na situação de crise política atual, o que parece certo num dia deixa de o ser no dia seguinte.

Há expectativas em relação à atitude do PSDB, que mantém com muita renitência o apoio ao governo. Uma das suas principais figuras, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, defendeu que Temer renuncie, pedindo ao atual presidente que tenha “a grandeza de abreviar o seu mandato”.

O dia, decididamente, não correu bem a Temer. Começou com uma monumental gaffe ao dizer, de manhã, que na sua recente visita à Rússia tinha verificado “o interesse extraordinário [pelo Brasil] dos empreendimentos soviéticos”.

À tarde, a imprensa noticiou que um avião forçado a pousar pela Força Aérea e que transportava 500 quilos de cocaína tinha descolado de uma fazenda pertencente à família do ministro da Agricultura de Temer, Blairo Maggi.

À noite, chegou a tão esperada denúncia da Procuradoria-geral.

Sondagem: Temer, pior em 28 anos

A mais recente sondagem de opinião pública, divulgada pelo instituto Datafolha, revela que apenas 7% da população considera o governo do presidente Michel Temer “ótimo” ou “bom”, a menor aprovação registada pelo instituto em 28 anos. O resultado é pior que o de Dilma Rousseff que, na véspera do impeachment, tinha 13% de aprovação.

A mesma sondagem mostra que 83% dos entrevistados consideram comprovada a vinculação de Temer aos escândalos de corrupção, e querem eleições diretas para substituí-lo.

A sondagem indica ainda que o ex-presidente Lula, com 30% das intenções de voto, consolida a sua dianteira numas eleições presidenciais, seguido do deputado de extrema-direita Jair Bolsonaro, com 16%, e Marina Silva com 14%.

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