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Brasil: Sondagem mostra Marina Silva como favorita para vencer as eleições

Entrada da candidata na disputa eleitoral depois da morte de Eduardo Campos provoca um terramoto político no país. Segundo o Ibope, a candidata do PSB venceria a atual presidente, Dilma Rousseff, no segundo turno, por 45% contra 36%.
Marina Silva: posições muito conservadoras em relação a gays, drogas e aborto. Foto de Luiz Alves
Marina Silva: posições muito conservadoras em relação a gays, drogas e aborto. Foto de Luiz Alves

A entrada da ex-ministra do Meio Ambiente do governo Lula na disputa eleitoral está a provocar um verdadeiro “tsunami” político no Brasil, a menos de 40 dias das eleições presidenciais, baralhando uma disputa que parecia já praticamente definida.

Marina assumiu a candidatura do Partido Socialista Brasileiro (PSB) depois da morte do senador Eduardo Campos num acidente de avião, no dia 13 de agosto. Cinco dias antes, as sondagens davam a Campos 9% dos votos.

Num segundo turno entre Dilma e Marina, esta venceria com uma margem mais alargada que a sondagem anterior: 36% a 45%.

Dez dias depois, quando a candidatura de Marina era dada como provável mas ainda não fora oficializada, o instituto Datafolha fez uma sondagem que já registava a entrada de Marina na disputa pelo acesso ao segundo turno: Dilma tinha 36%, Marina empatava praticamente com Aécio Neves, do PSDB, com 21% e 20% respetivamente. Num cenário de segundo turno entre Dilma e Marina, esta última venceria com 47% a 43%, mas a margem ficava ainda no quadro de um empate técnico.

Na sondagem do Ibope, divulgada esta terça-feira, já com a candidatura de Marina Silva oficializada, Dilma ainda vence o 1º turno, com 34%, mas Marina descola de Aécio claramente, obtendo 29%, contra 19% do candidato do PSDB. Num segundo turno entre Dilma e Marina, esta venceria com uma margem mais alargada que a sondagem anterior: 36% a 45%.

Reações

Para o deputado Vicentinho, líder do Partido dos Trabalhadores (o partido de Dilma) na Câmara dos Deputados, a sondagem “é um cenário que requer um estudo mais profundo [...] para que a gente possa dedicar a nossa ação aonde os problemas estão acontecendo”.

Já Beto Albuquerque, deputado do PSB e candidato a vice-presidente de Marina Silva, “o nosso crescimento tem a ver com o desejo de mudar da população brasileira. A morte do Eduardo, infelizmente, despertou essa atenção à política, e os brasileiros estão enxergando na Marina a possibilidade de mudar através dela.”

A reação mais desconcertante foi a do senador José Agripino, coordenador da campanha de Aécio Neves (PSDB): “Essa pesquisa é muito ruim para a Dilma, para o PT. Revela preferência por dois candidatos e por uma pessoa que não teve exposição de candidata, teve apenas exposição. Daqui a 15 dias, você terá condições de fazer avaliação dos três como candidatos, porque até agora Marina foi exposta, exibida, mas sem emitir opiniões, sem participar de debates e confrontos”.

Se a sondagem estiver certa, Aécio Neves fica fora do 2ª turno.

Combinação de neoliberalismo com programas sociais

“Marina apresenta o novo, que quer personificar como uma combinação dos programas sociais do PT (coisa que o PSDB manteria) com a política económica neoliberal do PSDB (coisa que o PT manteve, pelo menos nas suas linhas gerais)”, analisa o jornalista Cid Benjamin na sua página do Facebook. Referindo-se à atuação de Marina Silva no debate de terça-feira entre os principais candidatos na rede Bandeirantes de TV, Bejamin, que apoia o PSOL, observa que a candidata do PSB mostrou, também, “um conceito peculiar de 'elites', para fugir de qualquer coisa que parecesse diferença de classes na sociedade e crítica às 'elites económicas', para as quais se apresenta como alternativa. Quando chamada a precisar algo, equilibrou-se sobre generalidades”.

Azenha, que apoia Dilma, recorda que em junho de 2013 convidou os dirigentes do PT a refletirem profundamente sobre as massivas manifestações de rua e não a criminalizá-las, atribuindo tudo à oposição. 

Para o também jornalista Luiz Carlos Azenha, do blog Vi o Mundo, “a eleição de 2014 está longe de ser definida. Quando muito, há tendências fortes: Dilma x Marina no segundo turno parece uma forte possibilidade”.

Numa interessante análise, Azenha, que apoia Dilma, recorda que em junho de 2013 convidou os dirigentes do PT a refletirem profundamente sobre as massivas manifestações de rua e não a criminalizá-las, atribuindo tudo à oposição. E isto porque considerava ser necessário entender os jovens que se mobilizaram.

“No Brasil, o que me parece extremamente curioso é que nem Dilma, nem Aécio, que exerceram cargos executivos simultaneamente, tenham se dado conta das mudanças que, cada um a seu jeito, ajudaram a promover no país, que alimentaram o desejo de novas mudanças nos que foram às ruas em 2013. Às vezes parece que ambos se acostumaram com ou foram consumidos pela política dos bastidores”, afirma.

Poço de contradições

Marina Silva tem a seu favor a sua origem popular, que por vezes lembra a de Lula. Nascida no estado do Acre, num seringal – uma mata de seringueiras, árvores de onde se extrai a borracha –, Marina só aprendeu a ler e escrever aos 16 anos, e o seu primeiro emprego foi como empregada doméstica. Mas aos 26 anos formou-se em História e posteriormente fez especialização em teoria psicanalítica e em psicopedagogia.

A sua trajetória política começou como sindicalista docente, foi eleita vereadora de Rio Branco em 1988, deputada estadual no Acre em 1990 e senadora em 1994, sempre pelo PT. Em 2003, Lula nomeou-a ministra do Meio Ambiente, cargo que ocupou até 2008. Em 2010, já depois de ter saído do governo e do PT, foi candidata à Presidência pelo Partido Verde ficando em 3º lugar, com 19,3%. Mas desentendeu-se com o partido para formar o seu próprio partido, a Rede de Sustentabilidade. Não conseguindo, porém, legalizá-lo a tempo, entrou no PSB para salvaguardar a possibilidade de ser candidata às presidenciais. Um acidente de aviação acabou por lhe oferecer esta nova oportunidade.

A coordenadora do seu programa económico é Maria Alice Setúbal, herdeira da família Setúbal, dona do maior banco privado brasileiro, o Itaú Unibanco. 

Como Ministra do Ambiente, Marina opunha-se à liberalização dos transgénicos no país, mas acabou depois por assinar a lei que regulamentou a utilização de sementes geneticamente modificadas no país. A medida foi aplaudida pelo deputado Beto Albuquerque, um dos integrantes mais ativos da bancada ruralista, isto é do grupo de deputados que defendem os grandes fazendeiros e latifundiários. Agora que oficializou a candidatura, Marina Silva escolheu esse mesmo deputado para o seu candidato a vice-presidente, uma forma de aproximar a sua candidatura do agronegócio.

A coordenadora do seu programa económico é Maria Alice Setúbal, herdeira da família Setúbal, dona do maior banco privado brasileiro, o Itaú Unibanco. Também faz parte dos seus apoios o economista André Lara Resende, um dos arquitetos do Plano Real que permitiu a eleição de Fernando Henrique Cardoso, e um dos idealizadores da política de privatizações do seu governo. Entre os seus milionários apoiantes está também Guilherme Leal, sócio da empresa Natura, uma das 20 maiores empresas do Brasil.

Evangélica da Assembleia de Deus

Marina Silva tem posições muito conservadoras em relação a gays, drogas e aborto. Já se manifestou diversas vezes contra o casamento gay, contra o aborto mesmo nos casos definidos por lei, contra a pesquisa com células estaminais e contra qualquer flexibilização na legislação das drogas. Nesses temas, a sua posição é a mais conservadora entre os três principais candidatos à Presidência.

Por outro lado, o PSB tem alianças que de socialista nada têm. Aliás, o PSB de socialista tem apenas o nome, estando envolvido em coligações com os setores mais à direita. Em São Paulo, por exemplo, o PSB apoia a reeleição de Geraldo Alckmin do PSDB. No Paraná, apoia o também membro do PSDB Beto Richa, famoso por censurar blogs e pesquisas.  

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