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Bicampeã mundial de xadrez recusa participar em campeonato na Arábia Saudita
A ucraniana Anna Muzychuk é bicampeã do mundo de xadrez, mas está disposta a não defender os seus títulos, no campeonato mundial feminino que começou nesta terça-feira, dado que este tem lugar na Arábia Saudita, um país regulado pelo machismo de Estado.
Numa publicação na sua página de Facebook, Anna Muzychuk escreveu que prefere defender a igualdade de género e ser fiel aos seus princípios: “Não quero jogar pelas regras de outros, não quero usar abaya [veste islâmica para as mulheres que na Arábia Saudita é obrigatória], não quero ter de andar acompanhada para sair e, no geral, não me quero sentir uma criatura secundária”.
“Estou preparada para me erguer pelos meus princípios e não ir a um evento onde, em cinco dias, deveria ganhar mais do que ganho numa dezena de eventos juntos”, explicou Muzychuk, acrescentando que “tudo isto é irritante, mas o mais perturbador é que quase ninguém se preocupa”, acrescentou.
Segundo o jornal espanhol Publico, a organização do campeonato abriu este ano uma exceção para permitir que as mulheres pudessem jogar sem o hijab, o véu que cobre a cabeça, mas manteve todas as outras obrigações impostas às mulheres.
Em fevereiro deste ano, a campeã norte-americana Nazi Paikidze recusou participar no mundial feminino no Irão, devido à obrigatoriedade do uso de um véu na cabeça. Nessa competição, Anna Muzychuk participou e aceitou utilizar o véu, algo que considerou “mais do que suficiente”.
Numa outra publicação na sua página pessoal, em novembro, Anna Muzychuk justificou a decisão anterior e antecipou a mais recente: “Primeiro o Irão, depois a Arábia Saudita. Pergunto-me onde será organizado o próximo campeonato mundial feminino. Apesar do prémio recorde, não irei jogar em Riade, o que significa perder dois títulos de campeã mundial. Arriscar a minha vida, usar abaya o tempo todo? Tudo tem o seu limite e os véus no Irão foram mais do que suficientes”, escreveu.
Comentários
Fantástica
A sociedade continua a fechar os olhos à desigualdade de género. De louvar que alguém coloque por encima dos prémios e da fama os valores morais, defenda a sua própria identidade e ao mesmo tempo dê uma lição de carácter a quem permite que este tipo de eventos se realize em países onde não são respeitados os direitos humanos nem a igualdade de género.
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