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Banqueiro irlandês apanhado a gozar com os contribuintes que o resgataram

As escutas divulgadas pelo jornal irlandês Independent mostram como o banco Anglo Irish enganou o Estado ao começar por pedir um resgate inferior ao necessário e ainda gozavam entre si à medida que entravam mil milhões de euros por dia para salvar o banco falido.
Banqueiros irlandeses tornaram o Estado refém e gozavam entre si com os contribuintes. Foto lusciousblopster/Flickr

As conversas entre os administradores do Anglo Irish Bank datam de 2008, quando o crash financeiro bateu à porta do banco atolado em dívidas e ativos tóxicos. Os banqueiros começaram por pedir um resgate de 7 mil milhões, mas no fim da história a conta a pagar pelos contribuintes irlandeses pela nacionalização do Anglo Irish revelou-se bem maior, a rondar os 30 mil milhões. Quando um dos administradores perguntou ao outro de onde é que tinha tirado aquele valor de 7 milhões, a resposta foi elucidativa: "Como diria o Drummer [David Drumm, o CEO do banco], tirei-o do rabo!", respondeu John Bowe.

O resto da conversa serve para perceber a estratégia dos banqueiros: não podiam avançar com um número próximo das necessidades reais porque corriam o risco de o Estado dizer que os contribuintes não poderiam aceitar gastar o valor que era preciso. "Se eles vissem o tamanho logo à partida, podem achar que têm uma escolha e dizer que o custo é demasiado elevado para os contribuintes (…) Mas se o número for grande, o suficiente para parecer que é grave, mas não tão grande que possa estragar tudo, então eu creio que temos hipóteses", confidenciou Bowe a outro administrador.

"O número é sete, mas na verdade precisamos de mais. Aqui a estratégia é puxá-los para dentro, fazê-los assinar um grande cheque, e a partir daí eles têm de manter a ajuda, têm de proteger o dinheiro que já meteram", acrescentou Bowe na conversa agora revelada. As conversas dos banqueiros eram preenchidas com frases em que revelavam a sua boa disposição apesar do banco se ter afundado. Chegaram mesmo a desejar que o banco fosse nacionalizado, porque assim "vamos manter os nossos empregos". O Anglo Irish tinha presença no mercado de retalho, mas concentrava-se na banca de investimento e no apoio ao ramo da construção e especulação imobiliária. Nenhum dos seus administradores foi responsabilizado pela justiça pela gestão ruinosa.

Banqueiro a cantar "Deutscland Uber Alles" indigna políticos alemães

Esta quarta-feira foram reveladas novas escutas que dizem respeito ao líder do banco, David Drumm. Nas vésperas do resgate, quando os depositantes e investidores corriam a tirar o seu dinheiro do Anglo Irish, Drumm ria ao telefone, dizendo "Mais um dia, menos mil milhões". As instruções de Drumm para os seus colaboradores eram claras: abusem da garantia pública, mas não sejam apanhados.

Numa das conversas de David Drumm com John Bowe, que era responsável pelo ramo dos mercados de capitais no Anglo Irish, o banqueiro refere-se ao mal-estar entre a Irlanda e a União Europeia sobre o resgate à banca, após ser contactado pelo responsável da regulação bancária do país. "Eu devia gravar estas chamadas, ou ao menos tirar notas", ria-se Drumm, imitando a voz do regulador quando lhe disse que "o raio dos alemães estão em cima de nós, David". Ao que Bowe respondeu cantando "Deutschland, Deutschland, Uber Alles", o que deu origem a gargalhadas dos dois interlocutores.

O facto dos banqueiros gozarem com os alemães recorrendo às estrofes do antigo hino alemão do tempo dos nazis já provocou reações em Berlim. O vice-presidente da bancada parlamentar da CDU diz-se "ofendido" e considera que "não se deve morder a mão que nos alimenta". É insuportável ouvir alguém a falar assim", acrescentou Michael Fuchs.

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