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Bélgica contra Paris e Berlim: "Assim é complicado viver"

“Assim é complicado viver!”, desabafou o ministro belga dos Negócios Estrangeiros, Olivier Chastel, ao constatar em entrevista ao jornal bruxelense Le Soir que “a Europa já só toma decisões depois de uma cimeira franco-alemã”.
O ministro dos Negócios Estrangeiros belga diz que as vantagens que os alemães tiram da UE devem ser compensadas pelo apoio aos eurobonds. Foto MNE belga.

Publicada no dia em que o Eurogrupo tenta mais uma vez estabelecer as condições de aplicação do resgate à Grécia, a entrevista não surge como um caso isolado a contestar o domínio de Paris e Berlim sobre as questões da crise e o bloqueio dos eurobonds. Desde que a Finlândia se entendeu directamente com a Grécia sobre a questão das garantias para o resgate, as vozes “contestatárias” na União contra a política “do eixo” soam cada vez mais altas.

“As vantagens que a Alemanha tira da União devem ser compensadas pela aceitação dos títulos de dívida europeus (eurobonds) pela própria Alemanha”, disse Chastel na sua entrevista a Le Soir. O ministro belga dos Negócios Estrangeiros afirmou ainda que “o facto de os grandes Estados da União quererem manter o poder sobre as questões económicas e financeiras bloqueia a solução da crise”.

A entrevista do chefe da diplomacia belga foi publicada no dia em que os ministros das Finanças dos países da Zona Euro procuram mais uma vez concretizar as fórmulas práticas de resgate à Grécia no seguimento da recente e “frustrante” cimeira de Paris entre Merkel e Sarkozy, recorrendo a adjectivos que circulam nos corredores das instituições europeias.

Jacek Rostowski, ministro das Finanças da Polónia, país que assume a presidência rotativa da União, afinou praticamente pela tese de Castel. Segundo ele, existe um risco de “dissolução da Zona Euro” e “as elites europeias, incluindo a alemã, devem decidir se querem que o euro sobreviva, ainda que a um preço elevado, ou não”.

Os ministros do Eurogrupo gastaram os trabalhos de quarta-feira a tentar encontrar uma solução para o que a maioria deles, segundo se diz, considera ser um “problema” levantado pelo recente acordo bilateral entre a Grécia e a Finlândia para a participação de Helsínquia no resgate. No momento em que a questão das garantias é “a prioridade das prioridades”, segundo Van Rompuy, presidente do Conselho Europeu, Atenas e Helsínquia acordaram em que as garantias gregas serão em dinheiro líquido, solução que indispôs França, Alemanha, Barroso, Rompuy, o BCE e o comissário Olli Rehn. Responsáveis franceses e alemães dizem que os outros países também discordam do entendimento bilateral mas sabe-se que pelo menos a Áustria, a Eslováquia e a Holanda tentaram “aproveitar a boleia” para negociar acordo semelhante com Atenas.

O presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, garantiu que “a solução está próxima”, presumindo-se que resulte da imposição franco-alemã. A França afirma que o que está em causa no resgate à Grécia é o acordo estabelecido em 21 de Julho, “e nada mais do que esse acordo”, pelo que “só podem existir acordos bilaterais com a aceitação de todos os países”. A Alemanha afirmou exactamente o mesmo.

A Grécia, por seu lado, debate-se com as pressões de todos os lados e, dando um sinal da inquietação pelas exigências que estão a ser feitas ao país, o seu ministro das Finanças declarou que o governo de Atenas não aceitará dar como garantias “activos reais, fundiários ou partes de empresas”. Pressupondo-se, segundo um diplomata ao serviço de uma instituição europeia, que “afinal sempre há quem cobice as ilhas gregas”.


Artigo publicado no portal do Bloco no Parlamento Europeu

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