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“Apesar da idade, fica sempre qualquer coisa de se ter sido punk”

O movimento punk e os fenómenos underground – “cada vez mais presentes na sociedade portuguesa” - vão ser analisados num congresso a partir do dia 8 de julho, no Porto, na presença de 150 investigadores de 30 países.
O congresso “Keep It Simple, Make It Fast – Underground Music Scenes and DIY Cultures”, sem precedentes em Portugal, vai decorrer entre os dias 8 e 11 de julho na Casa da Música, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto e em outros espaços da cidade.

De acordo com a socióloga Paula Guerra, da Universidade do Porto, na conferência internacional “Keep It Simple, Make It Fast – Underground Music Scenes and DIY Cultures” vão ser apresentadas as conclusões de uma série de investigações desenvolvidas nas ciências sociais, mas também nas artes, no design e na música que permitem concluir que três décadas após o movimento punk as “formas de vida” alternativas estão cada vez mais presentes.

“Apesar da idade, fica sempre qualquer coisa de se ter sido punk e essa alguma coisa, se calhar, é o conceito ‘Do It Yourself’ (DIY, na sigla em inglês). Mas também as coisas que se fazem coletivamente: a questão da luta e da resistência, a participação social e política, alheada de partidos mas participativa. Pessoas que querem fazer a diferença e não querem ser uma ovelha no rebanho”, disse à Lusa Paula Guerra sublinhando as características originais do punk.

O movimento punk, a partir da segunda metade da década de 1970, inicialmente no Reino Unido e nos Estados Unidos, promoveu o conceito DIY, uma forma de criação independente, alheada das marcas e do sistema comercial na produção de música, roupa, adereços e publicações.

O fenómeno de “contracultura” reaparece e de acordo com a investigadora da Universidade do Porto está presente em Portugal, quer pelos mais jovens mas também pela geração mais velha.

“Há um interesse muito grande das pessoas em encontrarem formas de vida alternativas ainda que isso não tenha muito eco nos media mas vai acontecendo e transfere-se para a vida das pessoas e revela-se em modos de vida, práticas artísticas, práticas musicais”, disse Paula Guerra.

“Desde de 2012, em Portugal, há uma cena ‘underground’ dinâmica muito feita pelas próprias pessoas que participam, arranjam espaços, agendas e há muito dinamismo. Todas as semanas existem concertos e há coisas a acontecer só que todas essas coisas são de uma grande invisibilidade e muito micro”, sublinha a investigadora, autora do livro “A Instável Leveza do Rock” sobre o percurso do rock alternativo desde os anos 1980.

“Há casos de pessoas que têm empregos. Trabalham das ‘nove às cinco’ e paralelamente desenvolvem projetos em que reúnem amigos, gravam música em casa, fazem as capas dos discos e das cassetes e que são movidas por uma paixão. Acreditam em fazer coisas diferentes e sobretudo é muito interessante que estas coisas se verifiquem numa sociedade como a atual em que há uma banalização enorme das coisas, inclusivamente da participação cívica e da participação política”, explica a socióloga.

Paula Guerra destaca o conjunto de pessoas que se movem “nos circuitos alternativos” e cujas motivações não são o dinheiro mas a vontade de participação baseada em sentidos “estéticos e valorativos” e que procuram uma “resistência ao sistema e ao estado das coisas”.

“Estamos a falar de pessoas com várias idades mas o núcleo duro está na casa dos trinta e dos quarenta anos e outros, mais velhos, mantêm-se assim ao longo de toda a vida e não desistem”, diz Paula Guerra.

A investigação da socióloga entrevistou quase 200 pessoas para um trabalho sobre o punk em Portugal onde assume importância o envelhecimento e igualmente, entre outros pontos, o papel das mulheres nos movimentos alternativos em Portugal a partir dos anos 1980.

“Elas são menos em número e existe uma certa desigualdade que se revela também um pouco neste segmento. Isto é uma das coisas que custa aceitar às pessoas: as mulheres têm um papel mas de retaguarda, de acompanhar a banda. São menos protagonistas mas são importantes e, por isso, estamos a entrevistar as mulheres participantes no punk desde os anos oitenta”, disse.

O congresso que vai decorrer no Porto vai igualmente apresentar os trabalhos do investigador australiano Andy Benett, do canadiano Will Straw e do sociólogo Augusto Santos Silva.

“Temos 160 pessoas de 30 países e que vêm de propósito para o congresso. São investigadores destas áreas e não só da parte do punk mas também investigadores de Heavy Metal, Hip Hop, Rap e da música eletrónica”, sublinhou Paula Guerra.

O congresso “Keep It Simple, Make It Fast – Underground Music Scenes and DIY Cultures”, sem precedentes em Portugal, vai decorrer entre os dias 8 e 11 de julho na Casa da Música, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto e em outros espaços da cidade como a “Matéria Prima”, a “Dama Aflita” e o “Plano B” onde vão ser organizados exposições e concertos.

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