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Alexandria Ocasio-Cortez, latina e socialista: Quem é a deputada mais jovem da história dos EUA?

Dez meses após deixar o seu emprego de empregada num restaurante mexicano, a socialista Alexandria Ocasio-Cortez tornou-se a congressista mais jovem da história dos EUA.

Nas eleições intercalares norte-americanas, realizadas no dia 6 de novembro, os bairros do Queens e do Bronx, na cidade de Nova Iorque, escolheram uma mulher latina de 28 anos, porto-riquenha e socialista para representá-los no Congresso. Dez meses depois de deixar o seu emprego num restaurante mexicano, Alexandria Ocasio-Cortez derrotou o republicano Anthony Pappas com 78% dos votos, tornando-se a mais jovem congressista da história dos EUA.

Formada em economia e relações Internacionais pela Universidade de Boston, Cortez surpreendeu durante as primárias do partido Democrata ao derrotar o experiente congressista Joe Crowley e iniciar uma campanha vitoriosa para o Congresso, onde, a partir de 2019, irá representar o 14º distrito de Nova Iorque.

Filha de mãe porto-riquenha e pai nova-iorquino, Ocasio-Cortez já havia sido voluntária na campanha presidencial de Barack Obama, em 2008. No ano seguinte, ainda caloira do curso de bioquímica - o qual abandonou depois de um semestre -, trabalhou no gabinete do então senador democrata por Massachusetts Ted Kennedy (1932-2009).

Em 2016, a então ativista entrou de vez na atividade política quando ajudou a organizar a campanha do socialista Bernie Sanders para as primárias do partido Democrata, durante quais disputou com Hillary Clinton a nomeação para a presidência.

Do salão de beleza à direção de campanha

Num local que costumava ser um salão de beleza, Ocasio-Cortez organizou a direção de campanha de Sanders no Bronx. Rapidamente, o lugar transformou-se num centro ativo de discussão política. Membros de grupos como os Black Lives Matter, líderes comunitários, sindicalistas de diversos setores, ambientalistas, feministas, ativistas LGBTs e socialistas democratas passaram a reunir-se na sede montada por Ocasio-Cortez.

Clinton saiu vitoriosa das primárias dos democratas, mas acabou perdendo as eleições para o atual presidente dos EUA, Donald Trump. A movimentação da base do partido Democrata, porém, ficou, cresceu e prosperou em 2018, quando decorreram as midterms.

Poucos recursos, diálogo e base

Seguindo o exemplo da campanha de poucos recursos, baseada em diálogo e movimentação de base, apoiantes de Sanders criaram o Brand New Congress, algo como "Congresso Novinho em Folha", um movimento que adotou estes princípios como estratégia fundamental para lançar candidatos ao Congresso nas eleições de 2018.

Ocasio-Cortez surgiu dentro do movimento como um dos nomes para disputar um lugar na Câmara dos Representantes. Começou por receber apoio técnico para começar a sua campanha nas primárias.

À época, já morava novamente no Bronx e andava entre empregos temporários como empregada de bar ou restaurante - ocupações que evitavam que se afastasse da família: a mãe, Blanca, passava por dificuldades financeiras e trabalhava como empregada de limpeza depois da morte do marido.

Com ajuda do Brand New Congress, Ocasio-Cortez deixou de servir às mesas num restaurante mexicano de Nova Iorque e foi fazer campanha - agora, para si própria.

Primárias: campanha na rua

Na disputa pela vaga dentro do partido Democrata, a jovem ativista enfrentou o experiente deputado Joseph Crowley, que vinha de reeleições sucessivas. A campanha modesta de Ocasio-Cortez, sustentada por pequenas doações e forte atividade de base, parecia não representar uma ameaça para o tradicional candidato.

Ocasio-Cortez, então, foi para a rua. A campanha foi marcada por diversas ações diretas para angariar votos, como abordagens em praça pública, parques, estações de meto, envio de mensagens de texto, telefonemas e, até mesmo, batendo de porta em porta. Voluntários ajudavam a candidata na campanha na rua. Por sua vez, Crowley fazia o que havia garantido a sua vitória nos anos anteriores naquele distrito tradicionalmente democrata: apostou em reuniões formais e pouca atividade de base.

Além disso, Ocasio-Cortez recebeu apoio de movimentos que espontaneamente deram apoio à candidatura. À revista New Yorker, Virginia Ramos, uma das coordenadoras da campanha, disse que organizações como Bronx Progressive, Queens Neighborhoods United, Black Lives Matter e, principalmente, os Socialistas Democráticos da América “abriram caminho para a vitória”.

Ocasio-Cortez venceu Crowley com 57,13% dos votos e foi nomeada para disputar a eleição geral.

Midterms

O sucesso de Cortez nas primárias confirmou o potencial da candidata democrata perante o rival republicano que enfrentou nas midterms. Anthony Pappas, um professor de economia de 72 anos, filiado ao partido Republicano, concentrou a sua campanha num discurso conservador sobre “imunidade judicial”, repetindo que “ninguém está acima da lei” e que a sua campanha era baseada em posts simples no Facebook.

Com 78% dos votos, Cortez saiu vitoriosa das eleições intercalares e deu continuidade à hegemonia democrata no 14º distrito de Nova Iorque.

Após eleita, em entrevista ao New York Times, Ocasio-Cortez disse que teme não conseguir bancar um apartamento em Washington e que talvez terá que esperar pelo primeiro salário para se mudar para capital. "Eu tenho três meses sem salário antes de me tornar membro do Congresso. Então, como posso arranjar um apartamento? Estas pequenas coisas são muito reais."

Opera Mundi com esquerda.net

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