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5 de Outubro marcado pelos protestos

As cerimónias oficiais do 5 de Outubro ficaram marcadas pelos protestos contra a política austeritária do Governo. Luís Fazenda criticou o Presidente da República, que içou a bandeira nacional ao contrário, por ter feito uma intervenção “fora do contexto” e das “inquietações” dos portugueses.

As comemorações oficiais do 5 de Outubro foram este ano desviadas do Largo do Município, onde costumam decorrer todos os anos, para o Pátio da Galé. Francisco Louçã criticou esta alteração: "Vejo com tristeza e com alguma indignação, acho que as comemorações deviam ser onde são sempre, onde a República foi proclamada, é uma prova de falta de sentido republicano escondê-las num patiozinho quando merecia o combate pela continuação do 5 de Outubro e pelos valores republicanos".

Nas cerimónias oficiais, Cavaco Silva começou por hastear a bandeira ao contrário e quando ainda estava a intervir foi interrompido por uma mulher desesperada, que gritava não ter trabalho, nem futuro. Luísa Trindade, de 57 anos, disse aos jornalistas, segundo a Lusa: “Tenho uma pensão de cerca de 200 euros, estou farta de procurar trabalho, já tentei fazer limpezas, mas não consigo arranjar nada”. Luísa Trindade foi afastada pela segurança da cerimónia, mas manteve-se à porta do Pátio da Galé, gritando aos convidados oficiais: “Não se envergonham de olhar para a minha miséria?”

No final da intervenção do Presidente da República, a cantora lírica Ana Maria começou a cantar “Firmeza” de Fernando Lopes Graça. Ana Maria disse à comunicação social: “As pessoas estão a sofrer, eu sou uma delas. Eu ainda vou tendo emprego. Penso que era a altura de cantar o Firmeza”.

Os protestos populares continuaram no exterior do Pátio da Galé. Um ex-militar de Abril, Justino Serrão, de 59 anos, disse à Lusa: “Isto é uma vergonha porque não é uma cerimónia privada. Parece que vivemos outra vez numa ditadura quando hoje é o dia da República”.

Luís Fazenda, em declarações à comunicação social, afirmou, referindo-se ao discurso do Presidente da República: “Embora reconhecendo a importância da educação e de uma crítica implícita aos cortes que o Governo tem feito na área da educação, ignorou a crise, o aumento fortíssimo dos impostos, as angústias das pessoas, as dificuldades”.

O líder do grupo parlamentar do Bloco de Esquerda frisou ainda que o discurso de Cavaco Silva “é um apelo fora do contexto geral daquilo que são neste momento as enormes inquietações dos portugueses”.

O jornal francês “Le Monde” na notícia sobre o 5 de Outubro em Lisboa, salienta que “as comemoração da proclamação da República em Portugal foram marcadas pelo descontentamento crescente contra as novas medidas de austeridade anunciadas pelo governo sob a égide dos credores internacionais”.

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