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130 mil estudantes britânicos nos protestos contra aumento das propinas

É já o 3.º dia de protestos contra o plano do Governo conservador que inclui o aumento das propinas e cortes no investimento público na Educação. Dezenas de estudantes continuam a ocupar salas de aulas nas universidades de Edimburgo, Cradiff e Londres.
"Não me condenem a uma vida de dívidas", lê-se no cartaz do estudante britânico, na manifestação em Londres, dia 24 de Novembro. Foto Jonathan Brady/EPA/LUSA

Um dos cem alunos ainda sitiados esta manhã, quinta-feria, desde as 12h30 de quarta-feira na Universidade de Londres, Jonathan Moses, contou ao jornal britânico Guardian que estão preparados para "ficar ali indefinidamente". "O nosso protesto tem dois níveis. Um é local, contra a cumplicidade da Universidade de Londres em prol das reformas do Governo de coligação, e o outro é nacional, instando a uma acção directa contra os cortes que estão a ser coordenados em todas as universidades", afirmou.

Um outro grupo mais pequeno, de cerca de 50 estudantes, ocupava esta quinta-feira de manhã uma das bibliotecas da Universidade de Oxford, relata ainda o Guardian.

Na véspera, os estudantes abandonaram as escolas logo às primeiras horas da manhã, marchando pelas ruas em várias cidades e ocupando edifícios universitários pelo caminho, com os incidentes de violência e tumultos com a polícia a serem registados sobretudo na zona central da capital britânica. Estima-se que mais de 130 mil estudantes se manifestaram na quarta-feira, pelo segundo dia consecutivo, por todo o Reino Unido e Escócia, incluindo muitos alunos de liceus, com 13 e 14 anos de idade.

“Eu quero ir para a universidade e assim não posso”, disse esta quarta-feria à Reuters Ben Batten, um estudante de 15 anos que estava a manifestar-se em Londres. “Não sou rico, e é por isso que estou aqui”, acrescentou.

O valor actual das propinas é de cerca de 3800 euros anuais, mas com o plano do Governo poderão passar para uns sete mil ou mesmo dez mil euros anuais.

Depois de incidentes violentos ocorridos já no dia anterior, os agentes da polícia adoptaram uma táctica de “cerco” que manteve os estudantes durante várias horas na Praça do Parlamento, em Londres, e, apesar de “aparentemente ter aumentado a raiva [dos manifestantes], também conteve a desordem”, descrevia o Guardian.

Nos distúrbios desta quarta-feira ficaram feridas 17 pessoas, incluindo dois polícias, e pelo menos 12 universidades foram ocupadas pelos manifestantes – incluindo a Biblioteca de Oxford.

Durante a madrugada, a polícia montada carregara sobre um grupo de cerca de mil estudantes perto de Trafalgar Square, os quais em correria pela zona atiraram cadeiras e cones de trânsito para as estradas e quebraram os vidros de algumas lojas e de pelo menos dois autocarros, segundo a descrição do Guardian

O Governo tentou diminuir a óbvia dimensão da revolta e condenou o carácter violento dos protestos dos estudantes, sustentando que as manifestações estavam a ser manipuladas por grupos extremistas. Num tom intransigente, o ministro da Educação, Michael Gove, instou os media a não darem “o oxigénio da publicidade” a uma “minoria violenta” – expressão que evoca declarações da antiga primeira-ministra conservadora Margaret Thatcher, durante a década de 1980, a propósito das acções do IRA.

Primeiro-ministro quer levar este plano a voto no Parlamento ainda antes do Natal

Mais comedido, o vice primeiro-ministro e líder dos Liberais Democratas (na aliança de Governo com os Tories do primeiro-ministro, David Cameron), Nick Clegg, lamentou profundamente ter que abdicar da promessa feita no período pré-eleitoral de que se oporia a qualquer plano de aumento das propinas.

“Tenho muita pena de não poder cumprir a promessa que fiz, mas – tal como na vida – às vezes não temos controlo total de todas as coisas necessárias a cumprir as nossas promessas. Claro que lamento profundamente ver-me agora nesta situação”, justificou-se durante o programa de rádio da BBC "Jeremy Vine Show".

Conforme criticam os estudantes, as universidades do país já fizeram ouvir os seus alertas sobre o impacto “devastador” que pode ter um falhanço na aprovação dos planos do Governo em aumentar as propinas no ensino superior. As universidades estão mais preocupadas em manter os seus orçamentos, dizem, do que exigir um investimento que “deveria ser público”. Cameron quer levar este plano a voto no Parlamento ainda antes do Natal.

O director das Universidades do Reino Unido, Steve Smith, alega que sem o aumento dos custos dos cursos ter-se-á que diminuir o número de estudantes no ensino superior, uma vez que as bolsas sofrerão um enorme decréscimo. 

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