Está aqui

"RTP, crueldade na TV"

Apesar de a oposição aos espetáculos tauromáquicos ter vindo a aumentar, na noite de sexta, 22 de julho, realizou-se mais uma tourada RTP na Póvoa de Varzim. Por Paula Sequeiros.
Manifestantes anti touradas na Póvoa do Varzim.

Na noite de sexta, 22 de julho, houve tourada RTP na Póvoa de Varzim, aproveitando a presença de veraneantes na cidade de extensas praias. Novamente várias dezenas de pessoas se juntaram frente à arena em protesto por uma "Póvoa de Varzim melhor sem touradas" e contra o aproveitamento televisivo. Desde as 21h00 e noite fora, gritaram "RTP, crueldade na TV".

Preocupante é que a RTP, televisão pública, integre um espetáculo de mau trato de animais como “entretenimento”. A Casa de Pessoal da RTP tem sido a promotora. É  conhecida a ligação familiar entre pessoa da sua direção e profissional da tauromaquia. É conhecido também o facto de que os operacionais da RTP que habitualmente fazem reportagens de exterior se recusarem desde há alguns anos a fazê-lo, o que terá levado a empresa a recorrer a trabalhadores externos. Em vários Sítios e blogues anti-tourada é, ainda, recordado o facto de que as retransmissões de tourada são a segunda queixa mais frequente por parte de tele-espectadores da RTP.

Sem que se conheçam dados sobre venda ou oferta de bilhetes, quem assistiu à entrada do público ficou contudo com a impressão de que, como em outros espetáculos recentes deste tipo, o produto da bilheteira dificilmente explica os gastos. A assistência a touradas tem caído para níveis muito baixos, alguns casos de suspeita fraude e de desvio de dinheiros foram levados a tribunal. Recordemos que algumas corporações de bombeiros da região Norte desistiram de usar a tourada para recolha de fundos e optaram por outras formas como espetáculos musicais e culturais.

Este ano, a praça de touros da Póvoa de Varzim foi cedida de novo pela Câmara. O seu presidente justifica a cedência, que este ano deixou de ser gratuita, e diz não querer impedir o espetáculo por não haver legislação que as proíba. Viana do Castelo em 2015 já não teve tourada. Depois de muitos anos de protestos, os responsáveis pela autarquia tiveram um posicionamento diferente e simplesmente deixaram de criar condições para que ela pudesse ter lugar, no âmbito das várias leis que regulamentam touradas e outros espetáculos.

A oposição aos espetáculos tauromáquicos tem vindo a aumentar claramente no nosso país. Mais claras ainda são as crescentes proibições no Estado espanhol de espetáculos tauromáquicos, tais como as recentes relativas ao Toro de la Vega (Madrid) ou aos 'bou embolat' e 'bou amb corda' (Valencia). Mudanças que só foram possíveis pela persistente oposição de pessoas defensoras dos direitos dos animais e pela coordenação entre as várias associações e movimentos intervenientes.

A tauromaquia, conjunto de espetáculos que exploram e fazem negócio do sofrimento animal em público, enfrenta-se com um momento político e social desfavorável nos países europeus onde ainda persiste em regiões cada vez mais confinadas (Portugal, Espanha, França). Porque o sabem, os interesses económicos e de prestígio social e poder – ganadeiros e toureiros pertencem a casas de origem aristocrática com história de privilégios de muitas décadas – mexem-se em todas as direções. Tentam salvar aquilo que, mais do que casas, são castas.

Na concentração, convocada pelas redes sociais, notou-se em particular a presença das e dos ativistas de Viana, envergando camisolas com a frase “Viana é amor / Não é tortura nem dor!”.

A deputada pelo Bloco de Esquerda, Domicília Costa marcou também a sua presença, a par de representantes do BE, PAN e do Livre. À hora do silêncio, a concentração terminou. Outras lutas se preparam neste verão bem quente.

Artigos relacionados: 

Termos relacionados Animais, Sociedade
Comentários (4)