Está aqui
Desresponsabilização e a marginalização da praxe
E começa-se a falar mais uma vez em praxes!
A propósito da tragédia ocorrida nas imediações da Universidade do Minho (e à qual obviamente a Universidade é totalmente alheia). Não me consigo rever ou apoiar a praxe, mas não desviemos as coisas nem deixemos que isso nos cegue. Estivessem ou não os malogrados estudantes em praxe, não é admissível a derrocada de um muro desta forma inexplicável. Este acidente é demonstrativo do paraíso da construção desordenada e descontrolada que é Braga, após décadas de aposta exclusiva no betão para dar dinheiro aos empreiteiros.
Em 2010 já o JN tinha publicado um artigo sobre isto. As caixas foram desativadas nesse ano mas nunca desmanteladas e a força da chuva foi fazendo com que as terras empurrassem essa construção infeliz.
Do ponto de vista técnico e da responsabilidade/planeamento:
– É preciso perceber que esta zona de Gualtar é das zonas mais especulativas da cidade de Braga. Trata-se de uma zona de uma elevada rentabilidade, que graças à especulação permitiu, em pouco mais de 20 anos, um nível de rentabilidade dos terrenos e apartamentos, completamente díspar do resto da cidade.
Com esta procura de maximizar o lucro, os donos dos terrenos circundantes da universidade deixaram-nos ao abandono, aguardando, numa espécie do jogo do “preço certo”.
Com a transformação de terrenos para construção em terrenos baldios, tomados como uma espécie de parque de estacionamento improvisado e com as chuvadas de anos seguidos, sem qualquer manutenção, o terreno fez o que melhor sabe. Deformou-se e adaptou-se às pressões a que estava sujeito. Como é conhecido na geotecnia, os terrenos deslizam todos os anos para estabilizar e graças a este movimentos de alguns cm/ano, levou que uma caixa de correio fosse movendo e inclinando aos poucos e poucos sem que ninguém se desse conta.
Assim, a especulação e o desleixo do proprietário criaram uma bomba relógio.
– O outro ponto que há que prestar atenção: como é que a CMB (Câmara Municipal de Braga) deixou fazer um muro de tijolos, que ficava a suportar um talude. Com a agravante de ter carros em cima! Como é que nunca ninguém percebeu que poderia haver um deslizamento de terras?! A CMB não podia aprovar uma estrutura que não tinha capacidades de suporte, como também devia ter feito uma fiscalização inicial ou, depois da reportagem do JN, percebendo assim o risco ou/e a necessidade de uma fiscalização periódica.
Se fosse num sítio inóspito, no meio rural, ainda se compreenderia – mas não no meio urbano.
O problema de Braga está aí – em certas zonas, como Gualtar, os prédios brotam como cogumelos num meio que não é urbano. Muito graças à anterior concelhia, que só se preocupava em construir os prédios – não com o que está à volta ou a criação de pontos de interesse para os estudantes.
E a culpa "disto"? Neste caso concreto, se é totalmente da Câmara ou se é parcialmente, não sei. Mas esta fatalidade não é da culpa nem dos alunos nem da universidade – é da cidade e da sua ideia de crescimento. Do ponto de vista de aluno e bracarense:
Resta-me agradecer à reitoria por ter proibido e perseguido a malta que praxa e/ou que está de traje, expulsando-os da zona segura que é o campus para zonas envolventes com coisas destas.
Indiretamente também têm culpa no cartório. O que aconteceu hoje podia ter acontecido a uma criança que estivesse ali a brincar ou a malta aleatória que estivesse ali a beber uns copos e a falar como estão muitas vezes. Foi um acidente.
Caiu hoje com os estudantes lá, podia ter caído durante a noite enquanto estivesse lá mais gente numa quarta académica, podia ter caído sem lá estar ninguém se o reitor não tivesse marginalizado os alunos do campus que é seguro. Acredito que é tão cretino culpar "as praxes" como culpar a reitoria. Agora para mim é óbvio que a culpa não pode morrer solteira – e só pode ser de quem tinha a obrigação de fiscalizar aquilo. Parece-me que era a Câmara. Mas isso, a Judiciária e se calhar os tribunais decidirão.
Agora... é necessário perceber, que o que levou os alunos a seguirem caminhos mais extremistas/inconscientes (ou perigosos), que põe em causa a vida humana e permitir que as pessoas possam realizar atividades (que condeno) sem qualquer tipo fiscalização (tirando colegas que apenas são 3 ou 4 anos mais velhos que os outros, não mostrando uma diferença de idade que permita uma clareza na responsabilidade), fazendo com que essas pessoas sigam caminhos de risco.
Resumindo: Acho que é preciso legislar ou acabar com a praxe, pois o processo de marginalização está a levar para um caminho de colocar a responsabilidade em pessoas que não foram eleitas ou tenham uma diferença de idade que permita responsabilidade perante autoridades.
Tem de haver um basta, no andar a rodar a batata quente, entre os governos que dizem que o problema é com as universidades, pois elas têm independência. Das universidades que marginalizam os estudantes para não serem processadas. Dos estudantes procurarem a culpa em outros estudantes para saber quem é culpado, os que estavam em cima ou os que estavam em baixo da caixa.
É necessário legislação e já!
Alexandre Carneiro
(com enxertos da conversa do Filipe Moura)
Comentários
"Resta-me agradecer à
"Resta-me agradecer à reitoria por ter proibido e perseguido a malta que praxa e/ou que está de traje, expulsando-os da zona segura que é o campus para zonas envolventes com coisas destas.
Indiretamente também têm culpa no cartório. O que aconteceu hoje podia ter acontecido a uma criança que estivesse ali a brincar ou a malta aleatória que estivesse ali a beber uns copos e a falar como estão muitas vezes. Foi um acidente."
Não vou dizer que a culpa tenha sido da praxe, mas também é de uma má atitude agora responsabilizar a reitoria pelo que aconteceu. A reitoria proibiu certas atividades destabilizadoras que a praxe acarretava para o campus e com razão. Quantas vezes numa instituição que supostamente é local de ensino e trabalho ouvia-se gritos durante dias e dias que destabilizam qualquer pessoa que se queira manter minimamente concentrado. Se querem que a praxe se realize respeitem para continuarem a ser respeitados e não venham com acusações absurdas.
Que texto tão mal
Que texto tão mal fundamentado e que insensibilidade para com a paz das vítimas e suas famílias e amigos! Há políticos, independentemente da cor, que são assim mesmo. Começando: os engenheiros explicaram que a estrutura do correio era independente do talude, por isso os seus argumentos não se adequam. O que se passou é que, à boa maneira portuguesa, os responsáveis (condomínio + junta + câmara) por essa estrutura de "mobiliário urbano" não fizeram obras nem colocaram sequer placa de aviso. Também à boa maneira portuguesa, os alunos, maiores de 18 anos, subiram algo que se percebe, só de ver, que não é propriamente seguro. Deu asneira, pois claro. Por fim, culpar o reitor por estas atitudes dá vontade de rir. Por um lado, as autoridades não confirmaram ainda que se tratou ou não de praxe. Por outro lado, e a confirmar-se esse cenário, é inadmissível que este país que se diz civilizado e desenvolvido tenha tais rituais todo o ano letivo, e aí é culpa imediata é dos próprios alunos - praxados e praxantes.
Adicionar novo comentário