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Chomsky: A Europa é hoje uma das maiores vítimas do neoliberalismo
“A Europa é hoje uma das maiores vítimas” das políticas neoliberais que começaram a ser aplicadas no final dos anos 70 e começaram com Ronald Reagan e Margaret Thatcher, afirmou o linguista norte-americano Noam Chomsky.
Durante uma entrevista ao CTXT, o filósofo sustentou que as medidas de austeridade implantadas na região “estão a desmantelar o Estado Social e a debilitar os trabalhadores para aumentar o poder dos ricos e dos privilegiados”.
“É delirante a forma como a troika está a tomar decisões na Europa. Pode-se qualificar como delirante se forem levadas em conta as consequências humanas, mas do ponto de vista dos que definem a política não é delirante, para eles é fantástico. Estão mais ricos e poderosos que nunca, e estão a acabar com o inimigo, que é a população em geral”, assinalou o ativista político.
"Um mundo sem regras no qual os poderosos fazem o que querem. E, onde, milagrosamente, tudo sai à perfeição. É interessante comprovar como Adam Smith propôs isto na famosa expressão 'mão invisível'. Agora vemos que, quando o capital deixa de ter restrições, particularmente os mercados financeiros, tudo salta pelos ares. É com isso que se confronta hoje a Europa", sustentou o professor emérito de Linguística no Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT).
“O capitalismo é intrinsecamente sádico; de facto, Adam Smith reconheceu que quando tem rédea solta e fica livre de amarras externas, a sua natureza sádica manifesta-se porque é intrinsecamente selvagem. O que é o capitalismo? Maximizar os seus benefícios à custa do resto do mundo”, explicou o filósofo norte-americano.
O autor de “Os guardiões da liberdade” vê a América Latina como um exemplo de resistência diante da "invasão neoliberal". "Durante 500 anos, a América do Sul sofreu o domínio das potências imperiais ocidentais, a última delas, os EUA. Mas nos últimos 10 ou 15 anos começou a romper com isso", refere.
Chomsky considerou que o Syriza, liderado por Alexis Tsipiras, é um partido de esquerda "para os padrões atuais" mas que, pelo contrário, o seu programa não o é. "É um partido antineoliberal; não exigem que os trabalhadores controlem a indústria".
"E isto não é uma crítica, acho que é positivo. E o mesmo ocorre com o Podemos: são partidos que se levantam contra o assalto neoliberal que está a estrangular e destroçar os países periféricos", acrescentou.
8 de Fevereiro 2015
Publicado em RPP Notícias
Tradução de Luis Leiria para o Esquerda.net
Comentários
“O capitalismo é intrinsecamente sádico
Lindas palavras do Senhor Chomsky. Palavras estas que revelam conceitos válidos há muito tempo.
Então, porque é que continuam a existir pessoas, com dificuldades de compreensão, que não vêem isto nem aceitam ?? Será que comem todos do mesmo tacho ??
O estado actual das coisas é responsabilidade de todos aqueles que compactuam com este sistema !!
Vamos a acordar e abrir os olhos! Vamos terminar com a Ditadura do Capital !
Força !
A Luta Continua !
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O feitiço voltou-se contra o feiticeiro!
A “Política de Austeridade” efetivada hoje na Europa é a mesma política que foi aplicada no Brasil, nos anos 1990 com outra terminologia: “Reforma Política e Econômica de FHC”. Importante para a compreensão da história recente é questionar o porquê da diferença dos termos se ambas encerram um mesmo conceito: a instituição política do projeto econômico liberal burguês (donos dos meios de produção) que, de modo contextual, se constitui como neoliberalismo.
O projeto liberal burguês, consolidado com as revoluções - burguesa e industrial - nos séculos XVIII e XIX, se impôs enquanto poder hegemônico, defendendo, como fundamento conceitual: a propriedade privada, o “livre” mercado - de “natureza autorreguladora” - a não intervenção do Estado (Absolutista) na economia, a positividade do trabalho (como ideologia), as liberdades de contrato, de associação, de expressão e de escolha dos governantes (representatividade no poder) - como direitos inalienáveis dos “indivíduos” ou “cidadãos” e fontes de riqueza da “nação”.
Entretanto, a lógica liberal da “livre concorrência” ou do “livre mercado” se impôs como farsa mediante a ganância e desigual acumulação financeira perpetrada pelas grandes corporações (multinacionais/trustes/cartéis) do capitalismo mundial.Os monopólios do capital imperialista geraram duas grandes guerras que juntas mataram cerca de 70 milhões de seres humanos. Além disso, até a primeira metade do século XX, somente os homens da classe burguesa podiam votar e se candidatar aos cargos representativos de governo, isto é, sendo o voto censitário, as liberdades de expressão, de associação e de escolha eram permitidas e exercidas apenas pelos homens, brancos e proprietários. A grande maioria da população ficou excluída das Liberdades Fundamentais, uma vez que a Constituição era redigida, com hábil manipulação textual, pela burguesia segundo seus interesses de classe. Assim, o conceito de “democracia” como "liberdade de escolha e expressão" constituiu-se, também, como farsa mediante a lógica e o poder definidos pelo Estado liberal burguês. Curiosamente, a luta dos trabalhadores pelo sufrágio universal (inicialmente, somente masculino) se efetivou, na maioria dos Estados liberais, quando surgiram os meios de comunicação de massa que, controlados pelos donos dos meios de produção, serviram para manipular a opinião pública nos pleitos eleitorais, possibilitando à burguesia continuar ocupando o poder de Estado por mais tempo.
Eis porque até o início do século XX inexistiam leis trabalhistas ou políticas sociais que protegessem a classe trabalhadora da opressão e expropriação capitalista, ou ainda, que lhes garantissem mínima qualidade de vida. Segundo os pressupostos do materialismo histórico, a classe burguesa, constituindo-se ao longo dos séculos XV, XVI, XVII, XVIII..., ocupou o lugar do poder porque cindiu o saber produtivo imediato do trabalhador, isto é, o saber que este detinha sobre as etapas do processo de produção da mercadoria e porque se apropriou do saber mediato ou ainda do saber cumulativo, historicamente determinado pela luta de classes. A tecnologia e a maquinaria, tal como é utilizada na lógica da classe dominante, representa um paradigma para a própria lógica do sistema, por dois motivos: primeiro porque desapropria o trabalhador do saber produtivo, ao passo que necessita de um trabalhador qualificado para o exercício do trabalho tecnológico; segundo, porque ao criar trabalho excedente e expropriar o trabalhador da riqueza produzida pela extração de mais-valia, quebra a tríade produção-distribuição-consumo à medida que, promovendo o desemprego, trabalhador desempregado e/ou mal remunerado, representa consumidor a menos: gerando crise de superprodução e engendrando as condições de sua própria destruição.
A diferença entre a política liberal burguesa do passado e a do presente consiste no fato de que, antes, o objetivo era impedir a existência daquilo que, hoje, pretende-se anular: as conquistas dos trabalhadores. A política liberal (ou neoliberal) consiste portanto: 1) na desregulamentação das leis trabalhistas, visando dar maior margem de lucratividade ao capital; 2) na retirada do Estado de áreas sociais estratégicas por via das privatizações, cuja lógica de mercado expropria o trabalhador da riqueza socialmente produzida, aumenta o desemprego, ao passo que, “por tempo limitado” ou “cíclico”, possibilita o aumento da acumulação de capital pelos monopólios corporativos da indústria e do sistema financeiro; e 3) na ofensiva aos multifacetados movimentos e manifestações da classe trabalhadora, seja pela manipulação, cooptação ou repressão, com o objetivo de minar a resistência dos trabalhadores à aplicação das medidas anteriores.
Assim, a política de “austeridade” das nações europeias encerra dupla significação em estreita relação. Num primeiro momento, o Estado liberal burguês procura justificar a “crise” como resultado de um “déficit público” gerado nos últimos 20- 30 anos pelo acesso da classe trabalhadora ao mercado de consumo possível, no entanto, naquele momento, em função das políticas de seguridade social do Estado (o mercado de trabalho dava sinais de alerta, em função da automação tecnológica e do deslocamento da produção industrial para nações subdesenvolvidas, onde a extração de mais-valia se efetuava em proporções gigantescas). Para "resolver" o problema do “déficit”, o Estado, antes “provedor” dos interesses “sociais”, assume mudança de conduta: ser “austero”, “rigoroso” para conter os “excessos” e “reorganizar” as contas. Afinal, a crise se instalou porque o Estado “desviou-se” dos princípios liberais ao promover “intervenções” para a classe trabalhadora, cabendo à mesma pagar a conta gerada pelos “erros de conduta” em “seu benefício”.
Este raciocínio linear evidencia dois problemas: A) a burguesia oculta o fato de, ocupando o poder de Estado a serviço dos interesses do grande capital, ser responsável pela verdadeira causa da crise e, de modo paradoxal, reafirma serem os princípios liberais o fio condutor da história “rumo ao progresso”. Negando haver contradições em seu projeto político, infere ao conceito um “ar de pureza”, “de inevitabilidade” que, em verdade, é monopolista e onipotente ao ocultar da história a verdade de suas memórias, recusando-se, por exemplo, a aprender com os erros do passado - Crise de 1929; B) expõe a armadilha na qual parcela considerável da classe trabalhadora se deixou envolver ao ser “seduzida” e/ou “cooptada” pelo mercado de consumo: perdeu a “consciência de classe” de duas maneiras, quais sejam: 1- negligenciou o fato de terem sido as conquistas trabalhistas, pela luta das gerações anteriores, que lhes garantiram o acesso ao mercado de consumo e à qualidade de vida que ora desfrutavam, ao contrário do que afirma o Estado liberal burguês, ideologicamente se colocando como “provedor” desse processo; 2- não percebeu que sua qualidade de vida era também resultante da opressão e expropriação dos trabalhadores de outras nações do mundo, por longo tempo exploradas - como colônias na expansão marítima dos séculos XV ao XVIII (acumulação primitiva de capital), como neocolônias na expansão industrial/corporativa/monopolista dos séculos XIX e XX (imperialismo) e pela política neoliberal a partir dos anos 1980/1990 (Estado Mínimo) - alienando-se, portanto, do processo histórico e global da acumulação capitalista e da luta de classes: vale lembrar, “Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos! (Karl Marx).
Por isso os Estados europeus conseguiram manter “reservas” previdenciárias, ocultando a acumulação capitalista pela expropriação trabalhista, mesmo quando transcorrido trinta anos da mudança de rumo do projeto político burguês: do ”Welfare State” (Estado do bem estar social) para o neoliberalismo (Estado Mínimo).
Eis porque, num segundo momento, a burguesia europeia impede evidenciar o fato de haver estreita relação, mundial e histórica, entre os processos de acumulação e de expropriação da riqueza socialmente produzida. A sustentação da política neoliberal na Europa, por quase três décadas, somente foi possível mediante a exploração da classe trabalhadora nos países “emergentes”. A própria criação desse conceito se dá, estrategicamente, no momento de aplicação da política neoliberal nos países subdesenvolvidos procurando camuflar as reais consequências dessas medidas, isto é, longe de promover o crescimento econômico dos “subdesenvolvidos”, ocasionou, mais uma vez, a expropriação de suas riquezas.
Entretanto, tomando o Brasil como exemplo (do que vem ocorrendo em outras nações da América Latina, alinhadas com políticas sociais de esquerda), na última década (2003-2013/14) e pela primeira vez na história do país, um partido político - oriundo dos movimentos sociais de resistência da classe trabalhadora frente à opressão e expropriação capitalista - foi eleito, por quatro mandatos consecutivos, para assumir o poder de Estado e iniciou um processo de união entre as nações com histórico de exploração colonial e/ou luta socialista - como os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul); bem como demarcou política de ruptura processual e gradual com o projeto neoliberal burguês.
Questionando o protecionismo agrícola dos países industrializados, propondo novas parcerias comerciais, valorizando os próprios recursos naturais, defendendo a soberania das nações e firmando acordos internacionais de cooperação científica, produtiva, energética e de proteção aos Direitos Humanos - na política externa; reduzindo taxas de juros, reorganizando políticas sociais de inclusão, abrindo concursos públicos, ampliando instituições de ensino e o acesso à educação e à saúde pública, pagando dívidas trabalhistas (precatórios), a dívida externa e indenizando as vítimas do regime político militar/ditatorial, investindo em infraestrutura,equipando e fortalecendo as forças armadas brasileira, promovendo incentivos fiscais e políticas de proteção ambiental, aumentando o poder de compra do salário mínimo, melhorando acesso aos recursos da previdência, financiando projetos para geração de emprego (moradia), enfim, estimulando produção, distribuição e consumo – na política interna; os países (agora de fato) emergentes deram “o grito dos excluídos”, freando, assim, um longo processo de subserviência à exploração capitalista-imperialista.
Simultaneamente, quando o desenvolvimento dos meios de produção alcançou limite tal que não permitiu mais “esconder” as contradições inerentes ao sistema capitalista, ou seja, acelerado desenvolvimento tecnológico e consequente automação da produção, gerando aumento do trabalho excedente (desemprego), resultando em crise de superprodução associada à gigantesca especulação financeira, seus efeitos se fizeram sentir nas nações industrializadas do globo. Karl Marx tinha razão: o modo de produção capitalista engendra as condições de sua própria destruição.
Alexandra de Alvim Pinto
Professora de História na rede municipal de educação.
Prefeitura de Uberlândia, MG, Brasil.
neoliberalismo
''In every American community there are varying shades of political opinion. One of the shadiest of these is the liberals. An outspoken group on many subjects, ten degrees to the left of center in good times, ten degrees to the right of center if it affects them personally. Here, then, is a lesson in safe logic''
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